Nascer, morrer, renascer. Muitas e
muitas vezes em uma mesma vida, sem que necessariamente, a Grande Dama
Ceifadora peça-nos companhia.
O mundo cheira a Plutão, Saturno
também mas por enquanto Plutão vocifera em seu reino.
Astrologicamente, Plutão, regente de
Escorpião, através de sua morada, ou em movimento através da nossa Carta
Celeste e em aspectos que troca com outros planetas no céu, trata das
finalizações, das profundas transformações interiores, do renascimento
individual e coletivo. Microcosmos e macrocosmos.
Convida a recontarmos a própria história
através de processos dilacerantes para que possamos por fim alinhavá-los.
Senhor do mundo subterrâneo, Plutão é
dono de um tônus singular. Cria bolsões de vazio borbulhante dentro de nós e a
nossa volta. Impulsiona em direção a um movimento solitário, mas não nos deixa
em silêncio com nosso mundo interno.
Exige que olhemos fixamente para nós
mesmos. Olho no olho, sem desviar o olhar. E aí percebemos que não
podemos controlar o nosso sofrimento, o nosso medo de perder e outros tantos
temores. Amores, hábitos, o cotidiano sem grandes surpresas e nem carecendo de
grandes decisões, conceitos, ideias emboloradas, vitalidade murcha, horizonte embaçado
e morno, atribuições sem sentido, aprisionados. A seiva dos relacionamentos
fica exposta, com seus conflitos e recursos em carne viva.
Plutão não abre mão deste e de outros
poderes e é o condutor do exercício no qual devemos prender todo ar a nossa disposição
e submergirmos em direção ao nosso inconsciente. Na busca do quê? Dos nossos
tesouros, enterrados tão fundo dentro de nós mesmos, que quase nem lembramos
mais, que eles existem.
O caminho a este prometido tesouro é
tortuoso, faz inverno na nossa alma, mas ele não permite descanso. Mostra-nos
que a chama da VIDA está ali, e que temos a escolha de alcançá-la, conquistando
e percorrendo cada milímetro da nossa Sombra para que então possamos parar de
projetar no outro o que se passa em nós mesmos. Qual a sua, a minha a nossa
responsabilidade?
O Brasil não se transformou no que
aqui contemplamos de janeiro para cá. Mas como imaginar que nos colocarmos nas
mãos de um homem como este poderia resultar em boa coisa? Como não antever que
o estrago seria muito maior?
A forte desavença através da política
partidária transformou-nos em suicidas manifestos, incapazes de acordos, de
enxergarmos um pouco lá adiante. Quanta
coisa fervia baixinho nos nossos mundos subterrâneos, fermentando.
Talvez aí possamos compreender o
porquê de tantos sentimentos raivosos, explosivos, odiosos, agressivos. O
porquê de colocarmos nossa esperança nesse lugar. O porquê de tudo parecer tão
óbvio para os que aparentam ter tudo tão claro, correto e tão obscuro para
outros tantos.
A grande luta é com nós mesmos. Com
os personagens, despreparados e ignorantes em suas almas e intelectos que andam
por aí, mas que também temos bem aconchegados dentro de tantos.
Manifestamos fora o que está dentro e
só com árduo trabalho sobre si poderemos de fato fazer diferença no coletivo,
macrocosmos.
Toxinas psíquicas purgam, observem
com atenção a paixão com que se tenta defender o que não é defensável?
Recuso-me a resvalar em questões
partidárias. Não se perceberam, mas estamos todos no mesmo barco remando contra
rochas nada dispostas a suavizar o caminho.
O processo civilizatório do mundo
parece ter deixado de fora uma enormidade de pessoas que mais do que nunca se
mostram convictas que podem discriminar, roubar, queimar, matar, esquecer que
existe muita fome, muita dor, muito desamparo, frio, ausência de oportunidades,
escolaridade, cuidados com a saúde, políticas preventivas que saiam do papel,
promessas cuspidas da boca para fora. Alguém consegue imaginar o responsável
administrativo de uma cidade sair sambando na Avenida comemorando a morte? Não
deveria o responsável por uma cidade, comemorar índices de violência mais
baixos, menos desemprego, assistência médica digna, merenda escolar garantida,
violência diminuindo, morros apaziguados?
Cheira utopia esta escrita porque
estamos tão longe de tomarmos posse destes direitos que parecem tão inatingíveis
feito alguns contos infantis.
O mundo cheira carniça e enxofre,
cheira sangue, cheira animais mortos, cheira pais separados dos seus filhotes,
cheira populações ribeirinhas inteiras ameaçadas, cheia a dizimação de toda uma
cultura que aqui estava antes de aportarmos com nossos ideais exploratórios.
Por mais ações que se faça como
chegar ao tumor primário devorador que destrói silenciosamente o que não
interessa e multiplica o que destrói? Como fazer com que pare de criar
tentáculos desvairadamente, morra de inanição e devolva-nos VIDA a ser
reparada, desenvolvida, transformada?
O que o alimenta? Penso que a falta
da educação básica, a boa alimentação das nossas crianças, a manutenção da
saúde, estudo de qualidade que estimule a visão crítica, livros disponíveis,
estímulo aos debates, currículo escolar inteligente, professores bem formados e
remunerados, profissionais que possam trabalhar com alegria e tranquilidade
porque existem programas de políticas públicas em ação que garantem o cuidado
com seus filhos. Bons debates em casa, conhecer profundamente a História do
nosso país, ter cultura política! Toda esta falta, nos torna presas fáceis e
vulneráveis, prontas para sermos dragados rumo ao mundo subterrâneo que arde,
nos tira o oxigênio, a esperança, e talvez a chama vital.
É o horror institucionalizado diante
da passividade, do sentimento de impotência, do sentir-se perdido.
Não trago novidade alguma com esse
texto, apenas tentei organizar um pouco o meu caos, que transborda fogo e água
salgada.
E não se iludam de que as questões
graves estão lá longe inalcançáveis na China, nos acordos e desacordos entre
países, na alta do dólar, na Catedral que pega fogo e floresta idem. Elas estão
bem perto de nós.
Logo mais poderá observá-la na sua
mesa, na escola do seu filho, no seu escasso poder aquisitivo que não dá conta
nem do esforço gigantesco que você fez ao expremer e reduzir daqui e dali o seu
viver, poderá observar nos postos de saúde, na ausência de medicamentos que
definem se alguém segue ou continua.
Eu acredito em milagres sim, que vêm do trabalho duro em busca da Consciência. Que
muda percepções, visão crítica, atitudes, que nos dá voz, indignação produtiva
e que assegura nossos direitos.
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