CARTA DE DANIELLE MITERRAN À AMANTE DO MARIDO

 Em homenagem à 



VÊNUS dentro de cada um de nós, 


Há muitos anos conheço esse texto abaixo, me identifico com ele e desejo compartilhar com vocês.   


O que eu tenho a dizer é absurdamente simples. 


Existem muitas possibilidades de se viver o amor. Não falo de padrões de traição, de modelos repetitivos que fazem parte de outros conteúdos. 


Não falo de descaso, de falta de respeito, falo que coisas simplesmente acontecem. Ganham vida dentro de você, te habitam, seguem com você. 


Coisas simplesmente acontecem e isso faz parte da beleza e da emoção de estar viva.  Não abra mão da sua liberdade de sentir. 


Não há motivo, discurso que deva te paralisar, anestesiar como se nada fosse. 


 Coisas acontecem e existem muitos jeitos de se viver o amor. 


 "Carta aberta de Danielle Mitterrand, à amante do marido". 


“Antes de mais nada devo deixar claro que não é um pedido de desculpas. Muito menos um enunciado de justificativas vãs, comum aos covardes ou àqueles que vivem preocupados em excesso com a opinião dos outros. 

Aos 71 anos, vivendo a hora do balanço de uma existência que é um sulco bem traçado e profundo, já não mais preciso, e nem devo, correr atrás de possíveis enganos. Vivo o momento em que as sombras já esclarecem e que as ausências são lindas expressões de perenidade e criação. Sombras e ausências podem ser tudo, ao passo que luzes e presenças confundem os mais precipitados, os mais jovens. Vivi com François 51 anos; estive com ele em muito desse tempo e me coloquei sempre. Há mulheres que não se colocam, embora estejam; que não se situam, embora componham o cenário da situação presumível. Uma vida de altos e baixos. Quando se vive assim em comum, cria-se uma solda e a consciência de que é preciso viver depressa. Concentrar talvez seja a palavra. Por isso tentei entendê-lo, relacionar-me com sua complexidade, com as variações de sua pessoa e não seu caráter… Quem entende ou, pelo menos luta para compreender as variações do outro, o ama realmente. E nunca poderá dizer que foi enganada ou que jamais enganou. Não nos enganamos, nos confundimos quando nos perdemos da identidade vital do parceiro, familiar ou irmão. Ou jamais os conhecemos. 



Quem não conhece, não tem enganos. Nas variações do outro, não cabe o apaziguador que destrói tudo antes do tempo em forma de tranquilidade. Uma relação a dois não deve ser apaziguada, mas vibrante, apaixonada, e não enfastiada. Nessa complexidade vi que meu marido era tão meu amante quando da política. Vi, também, que como um homem sensível poderia se enamorar, se encantar com outras pessoas, sem deixar de me amar. Achar que somos feitos para um único e fiel amor é hipocrisia, conformismo. É preciso admitir docemente que um ser humano é capaz de amar apaixonadamente alguém e depois, com o passar dos anos, amar de forma diferente. Não somos o centro amorável do mundo do outro. É preciso aceitar, também, outros amores que passam a fazer parte desse amor como mais uma gota d´água que se incorpora ao nosso lado. Aceitei a filha de meu marido e hoje recebo mensagens do mundo inteiro de filhos angustiados que me dizem “Obrigado por ter aberto um caminho. Meu pai vai morrer, mas eu não poderia ir ao enterro porque a mulher dele não aceitava”. É preciso viver sem mesquinhez, sem um sentido pequeno, lamacento, comum aos moralistas, aos caluniadores e aos paranóicos azedos que teimam em sujar tudo. Espero que as pessoas sejam generosas e amplas para compreender e amar seus parceiros em suas dúvidas, fragilidades, divisões e pequenas paixões. Isso é amar por inteiro e ter confiança em si mesmo.”




 





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