Cresci numa família de mulheres fortes, cada uma a sua maneira.
Embora eu nunca tenha sido de turmas, grupos, heróis, idolatrias etc. sempre tive as minhas causas fervidas na veia, batalhando por elas no meu cotidiano, nas minhas atitudes, através da minha liberdade, nos meus registros escritos, orais, flambados ou serenos.
Eu não gosto de dia certo para comemorar as coisas.
Mas compreendo que possa ser uma maneira concentrada de se pensar determinados assuntos. Mulher é criatura plural 24h por dia, multi tarefas e afetos.
Transforma o mundo, através do seu dia a dia, que se desdobra.
Pode parecer mágica, mas que nada, é esforço mesmo.
A flexibilidade e o oxigenar das ideias torna-se uma natural necessidade para que refaça arranjos e acordos dentro de si.
Sabe que a rigidez, é ceifadora de possibilidades.
Gera, cuida, nutre, acarinha, enfeita, enlouquece, exaure, pega fogo.
Ora por irritação, ora por desejos que se perdem entre funções.
É a cria, os amores, é o trabalho, a casa, é a vida que pulsa e exige.
Na imensa maioria das vezes dá jeito em tudo, mas em outras a chama interna está por desaparecer e ninguém bota reparo.
Se, desde que o mundo é mundo é assim para pior, passou da hora de transformarmos este padrão.
Mas como, se para nossa perplexidade, mesmo entre as mulheres falta companheirismo, solidariedade e sobram julgamentos? Quando é que a sororidade perdeu a voz?
Alguém sabe, alguém viu? É susto, mas o olhar machista independe de gênero, acredite. A impossibilidade de se colocar no lugar de outra mulher, parece muitas vezes vir acompanhada, de uma absolutamente ilusória garantia, de que situações privilegiadas serão eternas.
Sabe de nada criatura, seja mais solidária, cadê a humildade de quem já viu de um tudo? Ou olhou e não viu? Porque horrores desfilam diariamente e cada vez mais na nossa frente sem o menor pudor.
Não me diga que nem serviu para nada, que em sua carne não dói. O universo se equilibra através de contínuos ajustes, maioria das vezes gambiarras mesmo. Não observou?
A maneira de se estar no mundo é uma gigantesca cadeia, que reverbera a energia das ações de todos.
Mas qual a saída?
Pode não haver ainda uma ação definida de grande porte, mas por certo a saída é coletiva, de resistência, espírito crítico, autoestima, valorização da infância como agente de mudança, repensar políticas publicas, horários mais flexíveis no trabalho, creches suficientes, educação de gênero, salários equivalentes. Ou seja, o óbvio e o justo.
Iniciativas deveriam acontecer como agentes multiplicadores, de um novo estar diante do feminino, que é o ventre do mundo.
E seguimos exaustas, tantas vezes no automático, agradecidas por pequenas absurdas gentilezas, carregando o Universo no coração.
As instituições engessam alternativas, simplesmente ignorando-as. O resgate do feminino é coluna mestra, é acolhimento, é crescimento, é tirar leite de pedra e seguir sempre.
Tenha clareza do seu propósito, há muito o que se fazer. Precisamos enlouquecidamente semear e multiplicar solidariedade, acolhimento, diálogo, cuidado.
Enquanto não houver mudança de mentalidade, através da Educação e do exemplo, nada novo poderá ser enraizado.
Quantas de nós educamos meninos sem refletirmos sobre isso? Repetindo padrões inconscientemente? Quantas de nós educamos meninas, estimulando a serem princesas a espera do beijo salvador?
O ser humano pode muito mais. Esta é uma questão do humano, independente de gênero. E se não é, deveria ser.
Essa repetição é contaminada por um modelo falido, perverso, ineficiente e violento. É preciso muita atenção, é preciso desenvolver a crítica nas nossas crianças e em quem passa pela nossa vida sem olhar em volta, e muito menos, para si.
É urgente, há muito tempo.
Para todas as meninas e mulheres deste Universo.
Mônica Bergamo
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